Dica do Arquiteto

O que é mobilidade urbana? Os meios de transporte melhorando a qualidade de vida das pessoas

A cada eleição ouvimos campanhas e promessas sobre mobilidade urbana, mas afinal, o que é mobilidade urbana? E como arquitetos e urbanistas enxergam essa questão?

Para te ajudar a responder essa questão, preparamos esse artigo explicando tudo sobre mobilidade urbana. Confira!

O que é mobilidade urbana?

Talvez, você já tenha se perguntado o que é mobilidade urbana. De maneira bem rápida e prática, podemos definir que esse termo define a capacidade de deslocamento de um grupo de pessoas dentro de um centro urbano, seja por qual meio for – de ônibus, de carro, de bicicleta, a pé, etc.

Por isso, cada vez mais a discussão sobre mobilidade urbana no Brasil vem se tornando tópico de rodas de conversas. Ela tem sido a preocupação da gestão pública e de grupos ativistas. Isto porque o deslocamento é inevitável e a dificuldade de locomoção nas grandes cidades é evidente. Logo, medidas públicas são necessárias para alterar essa realidade em busca do bem-estar da população.

Mobilidade urbana no Brasil

Mas antes de pensarmos qual a solução para a mobilidade urbana, é importante questionarmos o porquê de termos chegado a esse ponto.

Para entendermos o que é mobilidade urbana, precisamos voltar historicamente no desenvolvimento do espaço urbano. Após a segunda metade do século XVIII, a Revolução Industrial mudou consideravelmente a maneira como as cidades se estruturavam. Elas passaram a ser centros de diversos acontecimentos sociais e econômicos. A consequência disso foi o aumento do fluxo migratório para esses locais. Além disso, à medida que a tecnologia e a medicina avançaram, maior foi se tornando a população urbana.

Mas foi com o surgimento dos automóveis particulares que nos deparamos com o grande problema: o descompasso entre o aumento do número de carros e o planejamento urbano.

Na política dos anos 1950, temos o Brasil como exemplo do enaltecimento do transporte individual. Com o lema “50 anos em 5”, grandes transformações aconteceram no Brasil sob o governo de Juscelino Kubitschek. O investimento em mobilidade voltou-se para a indústria petrolífera e a construção de milhares de quilômetros de rodovias.

A construção de Brasília também foi evidência dessa valorização do carro particular. A cidade foi construída levando em consideração o deslocamento através deste tipo de veículo, afastando pessoas das ruas.

Atualmente, a facilidade de crédito para os brasileiros acelerou os problemas de mobilidade urbana. Afinal, tornou-se mais fácil ter acesso aos financiamentos, e logo a frota de carros aumentou 400% de 2006 a 2016, segundo dados da FVG.

Os reflexos desta estatística são sentidos na prática por todos. As cidades estão entrando em colapso, com um sistema de transporte público falido e ruas congestionadas.

Podemos citar aqui alguns dos principais problemas do favorecimento da política do carro particular:

  • Sobrecarga do sistema viário e do espaço urbano em geral;
  • Limitação do fluxo;
  • Aumento do índice de acidentes, tendo como consequência mutilações graves ou mortes;
  • Pouca oferta de alternativas de mobilidade para atender o excesso de passageiros que dependem de transportes públicos;
  • Poluição do meio ambiente.

Para melhor explicar o que é mobilidade urbana e sua sobrecarga, vamos utilizar o seguinte exemplo: para deslocar 60 pessoas de um ponto a outro da cidade, o carro será o veículo que mais ocupará espaço, especialmente observando a cultura de ter-se, no carro, na maior parte das vezes, somente o motorista, com no máximo um passageiro. Enquanto isso, será necessário somente um ônibus para transportar a mesma quantidade de pessoas.

Mobilidade Urbana no Mundo

E não foi somente no Brasil que essa tendência de valorização do automóvel ocorreu. Podemos observar exemplos críticos de espaços dominados por eles em Los Angeles, nos Estados Unidos, e em Toronto, no Canadá.

Esse problema fica claro no documentário Bikes vs. Cars (Produção de Fredrik Gertten Release, 2015). Nele, o próprio poder público admite prevalecer uma administração mais voltada aos carros e menos aos pedestres e ciclistas.

Em contrapartida, cansados da má qualidade de vida nas grandes cidades, muitos grupos têm-se reunido e se mobilizado em favor da diminuição de vias exclusivas para carros e da mobilidade urbana sustentável – pedestres, ciclistas e transportes coletivos.

Problemas no transporte público

Voltando ao caso brasileiro, sabemos que mesmo os ônibus sendo uma alternativa vantajosa, um dos seus maiores problemas se deve ao monopólio de grupos administrativos que operam as companhias em parcerias público-privadas. Como eles visam lucro e políticas escusas, o resultado é um transporte precário, com preços abusivos, sem segurança, e com deslocamento mal planejado.

E é na falta de políticas públicas específicas voltadas para o aumento do número e eficiência do transporte público ou outros meios mais sustentáveis que a população busca a aquisição do seu transporte individual.

Bons exemplos de mobilidade urbana sustentável

Em face dessas questões, podemos analisar casos de cidades que passaram por problemas parecidos com os brasileiros, e, com mudanças drásticas nas políticas públicas, puderam reverter seus cenários.

Seul – Coréia do Sul

O primeiro exemplo é a cidade de Seul, na Coréia do Sul. Na década de 1940, o rio Cheonggyecheon, que corta a cidade, foi canalizado. Em 1968 foi construída em sua superfície uma rodovia com o objetivo de desafogar o trânsito.

Com o desenvolvimento do país, o tráfego da cidade aumentou. Posteriormente foram construídos viadutos em níveis superiores à pista original, abrindo mais espaço para automóveis particulares. A iniciativa criou um efeito de piora do trânsito. O alargamento de vias era, e continua sendo, sinônimo de mais espaço para veículos.

A diferença em Seul foi a percepção de que as vias elevadas não acarretaram melhora e sim uma piora no trânsito. A administração pública entendeu que quanto mais carros cabem nas vias, mais carros vão surgir para circular. Esse fenômeno é conhecido como “demanda induzida”.

Nos anos 2000, as vias elevadas começaram a apresentar problemas estruturais. Conjuntamente iniciaram-se discussões de melhoria do trânsito e qualidade de vida na cidade.

Dessa forma a cidade decidiu por uma mudança radical: demolir as vias elevadas, reabrir e despoluir o rio e criar em seu entorno uma série de parques lineares.

O elevado investimento somado a um plano de mobilidade urbana voltado para o transporte público trouxeram uma melhoria significativa no trânsito e na qualidade de vida em geral. Isso atraiu moradores e turistas para uma região da cidade anteriormente degradada.

Copenhaguen – Dinamarca

Como segundo exemplo temos a cidade de Copenhaguen, conhecida como a capital da mobilidade urbana.

Na segunda metade do século XX, a cidade já sofria com excesso de veículos particulares, levando a população e o governo a pensar na mobilidade urbana sustentável, termo praticamente desconhecido naquela época.

Mobilidade urbana sustentável nada mais é do que pensar no deslocamento das pessoas, facilitando-o ao máximo, unido à diminuição dos impactos ambientais causados por obras e combustíveis fósseis.

Logo, a priorização por pedestres e meios de transporte de baixo impacto e volume foram a opção mais adequada na cidade.

Foi assim que, na década de 1960, iniciou-se o novo plano urbano de Copenhaguen. Segundo Jan Gehl, urbanista dinamarquês e autor do livro “Cidades para Pessoas” (Perspectiva, São Paulo; 1ª edição, 2013), as cidades passaram a se esquecer das pessoas ao se preocuparem principalmente com carros, deixando para trás a escala humana, o que gerou situações caóticas.

Para entender o que é mobilidade urbana, é preciso retornar o traçado urbano, e até mesmo das edificações, ao estudo da escala humana, tornando-se possível construir cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis.

As mudanças levam tempo. Somente após anos de campanhas e investimentos públicos em rotas cicloviárias que foi possível reverter a cultura de Copenhaguen. A cidade foi gradativamente se adaptando e reconhecendo o valor e a facilidade do transporte sustentável.

Em 2005, foi observado um maior número de bicicletas do que carros entrando e saindo da zona central da cidade, durante as horas de pico.

O investimento não foi vinculado somente às ciclovias. Desde 1962, um processo gradual de aumento de áreas sem veículos incentivou a vida pública, aumentando as atividades de permanência nesses pontos. Isso consequentemente incentivou a economia e melhorou a saúde da população.

O que tem sido feito no Brasil?

No Brasil, apesar de grandes obras viárias estarem concluídas ou em andamento, como ampliações de linhas de metrô, diminuição da velocidade máxima de vias, criação de vias exclusivas para ônibus, ciclovias, veículos leves sobre trilhos e etc., ainda há muito caminho pela frente. As intervenções existentes são muito pontuais, levando em consideração as escalas das cidades em que se encontram (geralmente no eixo Rio de Janeiro e São Paulo).

Falta ao poder público uma postura de mudança drástica. É preciso levar em consideração o não favorecimento do transporte por carros. A solução é seguir o caminho de exemplos que já se mostraram efetivos historicamente em cidades que passaram pelos mesmos problemas que nós.

Referências:
• https://www.todamateria.com.br/mobilidade-urbana/
• https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura/o-que-e-mobilidade-urbana/
• Tese de graduação em Arquitetura e Urbanismo – Fumec – 2018 – Flávia Silva Ribeiro Lopes – APROPRIAÇÃO PÚBLICA AMPLIADA UMA REFLEXÃO SOBRE A AVENIDA AFONSO PENA
• Livro Cidade para Pessoas – Jan Ghel
• Documentário Bikes vs. Cars – Fredrik Gertten Release – 2015

Rute Zocratto

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